Diretora do INTO Desabafa: “Não é nossa culpa a sua contaminação”

 

 

Não saem da minha cabeça os esforços de toda a equipe que trabalha no IntoAcre Covid-19. Eles se dedicam à exaustão para salvar vidas na pandemia. Posso afirmar que 99% de todo o tempo que estão trabalhando é de suor, de esforço e dedicação.

Aqui não vem servidor que pensa em se divertir ou ganhar rios de dinheiro. É gente que honra o seu juramento, seja ele qual for, em prol da vida. E esse amor incondicional ao proximo é percebido no ar da unidade.

Cada alta, cada perda é um turbilhão de emoções. Sim, porque nos apegamos aos pacientes e a seus parentes.

Muitas vezes, deixamos nossos familiares doentes em casa e só podemos acompanhá-lo por telefone. Até isolado deles, ficamos. Mas de uma coisa é certa, enquanto humanos também queremos abraçar, beijar, receber o carinho, mas principalmente, ser respeitados.

E onde está o 1%? É a porção que nos deixa mais tristes: a incompreensão de algumas pessoas, por acreditarem que não fazemos o nosso melhor. Desde os primeiros casos no Acre, o governador Gladson Cameli vem empenhado em fazer o melhor para que os acreanos passem pela pandemia com o menor dano possível às famílias. Esse esforço é real, nós o vivemos aqui no IntoAcre, todos os dias.

Lorena Seguel, diretora do IntoAcre

Dito isso, deixe-me contar um segredo a você: NÃO É CULPA NOSSA a sua contaminação, embora sempre vá sobrar para nós todas as consequências da aglomeração gerada aí fora.

E o meu recado vai também para a maioria dos senhores políticos do Legislativo. Senhores, entendam bem. Esse não é o momento de se aproveitar da desgraça dos outros.

Se quiserem ajudar, venham! Venham aqui nos visitar, mas não como julgadores de uma realidade da qual vocês nada entendem e nem fazem questão de compreender.

Venham, mas venham com o coração e mente abertos. Venham para contribuir, não para divergir do que não conhecem.

A mensagem para aqueles que, porventura, se borram de medo de entrar aqui, medo do qual nós profissionais não temos direito, e não podemos ter, é a de que pelo menos se dignem a se aproximar da entrada.

Assim, verão lá o quanto algumas pessoas que se dizem atletas, músculos à mostra, burlando o isolamento social, aproveitam para fazer escárnio dos nossos pacientes, desdenhando da miséria humana da qual eles são os mais miseráveis com suas caminhadas egoístas nos arredores do hospital.

Ironicamente, são esses mesmos ‘sarados’, alheios ao sofrimento do próximo, que dois ou três dias depois, acabam vindo parar nos nossos leitos de UTIs, onde sua arrogância não tem valor. Se tornam totalmente frágeis, de aspecto inimaginável, de quando antes estufavam o peito e gritavam sem máscara para o alto, dizendo: “Isso, eu não pego. Essa doença é para os fracos”.

Se não quiserem entrar aqui, senhores ditos homens públicos, então lhes peço encarecidamente que pelo menos nos ajudem a conscientizar esses leões egoístas, insensatos, a voltarem para casa, antes que se tornem gatinhos indefesos aqui dentro.

Se quiser, venham, mas venham com respeito aos profissionais que aqui estão. Trabalhadores cansados de carregar, muitas vezes, o fardo da irresponsabilidade de quem ignora as restrições.

Termino aqui com uma frase que me anima diante do cansaço: “Ninguém joga pedras em árvore que não dá frutos”.

Eu acredito em Deus e no Seu poder de mudar as coisas, inclusive, os corações egoístas de pessoas que, todos os dias, sujam as mãos com o sangue de inocentes mortos pela Covid-19, a cada saidinha irresponsável.

E que o Senhor nos proteja!