Porto Alegre tem primeiro caso suspeito de varíola dos macacos no Brasil

O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS Nacional) monitora o primeiro caso suspeito de varíola dos macacos identificado em um paciente de Porto Alegre (RS). Segundo a notificação, obtida pelo GLOBO, o possível infectado é um homem que chegou ao Brasil de Portugal no último dia 10. Na manhã desta segunda-feira, o paciente passará por uma consulta e terá o material coletado para que sejam feitos os exames.

Os sintomas tiveram início três dias depois, evoluindo para as lesões na pele características da doença no dia 20. De acordo com a última atualização, deste sábado, o paciente relatou uma melhora parcial das queixas. O diagnóstico segue em análise para confirmar se é a primeira infecção pelo vírus monkeypox identificada no país.

O CIEVS Nacional foi notificado sobre o caso há uma semana. O paciente, que foi a Porto Alegre para visitar a mãe, apresentou um quadro de dores de cabeça, aumento dos gânglios linfáticos e febre no dia 13.

Sete dias depois, passou a relatar calafrios, fraqueza física e o início das lesões cutâneas características da varíola dos macacos na face, tronco e membros. No último sábado, o paciente informou uma melhora do quadro e afirmou não ter tido contato com pessoas que foram diagnosticadas ou consideradas com suspeita para a doença quando estava em Portugal. O CIEVS Nacional está monitorando para confirmar se é o primeiro caso no Brasil.

“O mais importante agora é investigar para descobrir se é ou não. Para isso, é utilizado uma técnica chamada de PCR, a mesma do teste para a Covid-19. São coletadas amostras das feridas da pele, que são infectantes, e é verificado se o vírus da varíola dos macacos está presente ali” explica o médico geneticista Salmo Raskin, diretor do laboratório Genetika, em Curitiba.

Mais de vinte países em lugares onde o vírus monkeypox não costuma circular já registraram casos desde o início do mês. A Europa é a região mais afetada, com quase 70% dos diagnósticos concentrados na Espanha, no Reino Unido e em Portugal. Além de nações europeias, Argentina, México, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Israel e Emirados Árabes Unidos também relataram infecções.

Segundo a plataforma de dados Our World in Data, da Universidade John Hopkins, já são mais de 430 registros nos países fora da África Central e Ocidental – onde a varíola dos macacos é endêmica. A realidade intriga especialistas, uma vez que os casos detectados nesses locais geralmente eram pontuais em pessoas que haviam retornado do continente africano contaminadas. No entanto, pela primeira vez, esses países vivem casos de transmissão local do patógeno.

“Em relação ao Brasil, acredito que os riscos são pequenos. Mesmo nos países onde já foram registrados mais de 100 casos, ainda é considerada uma situação rara e com uma transmissão muito localizada. Não é a mesma coisa que a Covid-19, nem será. O problema é que, se os contatos dos casos não forem identificados e isolados, a transmissão continua e existe a possibilidade de chegar a animais destes países. Isso tornaria muito mais difícil de erradicar a doença nesses locais”, afirma Raskin.

Na última sexta-feira, a diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Preparação Global para Riscos Infecciosos, Sylvie Briand, disse que “se tomarmos as medidas certas agora, podemos conter o surto” da varíola dos macacos em países não endêmicos.

“Investigação de casos, rastreamento de contatos, isolamento em casa (para infectados) serão suas melhores apostas”, defendeu a chefe do secretariado de varíola da OMS, que faz parte do Programa de Emergências da organização, Rosamund Lewis.

O que é a varíola dos macacos?

A varíola dos macacos é uma versão semelhante à varíola erradicada em 1980, embora mais rara, mais leve e com a transmissão entre pessoas mais difícil de acontecer. Porém, os casos relatados até então têm se espalhado entre pessoas com mais facilidade, o que preocupa autoridades de saúde.

O período de incubação do vírus monkeypox – tempo entre infecção e aparecimento de sintomas – é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias, segundo a OMS. Quando surgem, os sinais são febre, dor de cabeça, dores musculares e erupções na pele (lesões) que começam no rosto e se espalham para o resto do corpo, principalmente as mãos e os pés. Geralmente, a doença é leve, e os sintomas desaparecem sozinhos dentro de duas a três semanas.

A transmissão entre humanos se dá pelo contato com lesões, fluidos corporais, compartilhamento de materiais contaminados e vias respiratórias. Isso inclui o contato íntimo, com uma série de registros sendo associados a relações sexuais.

Dados mostram que os imunizantes utilizados para erradicar a varíola tradicional, em 1980, são até 85% eficazes contra essa versão. Apesar de a cepa detectada nos países fora da África ter uma letalidade de 1%, não foram registrados óbitos até então.