O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na última sexta-feira, 24, um novo recorte do Censo Demográfico 2022, revelando que o número de etnias indígenas registradas no Acre cresceu 40,35% entre 2010 e 2022, passando de 57 para 80. A Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Acre (Sepi) atribui esse avanço às políticas públicas voltadas à demarcação territorial e ao fortalecimento das línguas maternas, consideradas pilares da atual gestão na promoção dos direitos dos povos originários.

Considerando apenas os dados do Acre, 63,79% dos indígenas entre 2 e 19 anos falam a língua materna no ambiente doméstico. O estado reúne 29.520 pessoas indígenas com 2 anos ou mais de idade, das quais 15.752 estão na faixa etária de 2 a 19 anos. Dentro desse grupo, 10.048 mantêm o uso da língua indígena em casa, reforçando a importância da transmissão cultural entre gerações.
Destaque nacional
No cenário nacional, o Acre se destaca como o estado com a maior proporção de jovens indígenas que falam a língua materna. Dos 18.211 indígenas com 2 anos ou mais que utilizam a língua indígena no estado, 10.048 têm entre 2 e 19 anos, o que significa que mais da metade (55,18%) dos falantes estão nessa faixa etária. Esse dado reforça o papel central da juventude na preservação e continuidade das línguas indígenas no Acre.
No país, apenas sete estados têm mais da metade da população indígena nessa faixa etária utilizando línguas indígenas no domicílio, um indicador importante da preservação cultural entre as novas gerações.
- Acre (55,18%)
- Maranhão (53,91%)
- Mato Grosso (53,46%)
- Tocantins (53,00%)
- Pará (52,34%)
- Paraíba (51,71%)
- Minas Gerais (50,04%)

Secretária dos Povos Indígenas do Acre, fala do fortalecimento da cultura por meio de políticas públicas. Foto: Cleiton Lopes/Secom
Compromisso e valorização cultural
O crescimento da população indígena no Acre, apontado pelo Censo Demográfico 2022, reforça a necessidade de ampliar políticas públicas voltadas à proteção territorial e à valorização cultural dos povos originários. Para a secretária dos Povos Indígenas do Acre, Francisca Arara, o momento exige continuidade e aprofundamento das ações já em curso.
“O aumento da população indígena no Acre significa que será preciso, futuramente, garantir a continuidade da demarcação de terras para esses povos. É fundamental que existam políticas públicas que permitam que os povos indígenas vivam e mantenham seus territórios com dignidade, com acesso à tecnologia, energia limpa e renovável, segurança alimentar e, principalmente, com a inclusão de jovens e mulheres nos espaços de decisão.”
Segundo Francisca, o Estado tem concentrado esforços no fortalecimento da identidade cultural dos povos indígenas, com destaque para ações de resgate linguístico e promoção da diversidade.
“No passado, os povos indígenas eram obrigados a abandonar suas línguas para falar apenas o português. Hoje, por meio da educação escolar indígena bilíngue, intercultural e diferenciada, estamos resgatando esse direito”, explicou.

Geração para geração
Além disso, ela destaca que avós, pais e tios continuam ensinando as línguas aos jovens. “Falar a língua indígena é um ato de resistência. É manter viva nossa gramática, nosso alfabeto, nossas consoantes. É um trabalho que envolve professores indígenas e escolas que valorizam nossa cultura.”
Ela também destacou que o Acre tem promovido festivais e encontros culturais que fortalecem a identidade dos povos originários não apenas dentro do estado, mas também em articulação com outras regiões do Brasil e até com países vizinhos.
“Costumo dizer nas minhas palestras que, aqui no Acre, somos muito bem preparados. Não sofremos os mesmos massacres que ocorreram em outros estados. E é por isso que devemos manter viva essa cultura de respeito aos territórios e aos direitos dos povos indígenas”, completou.
O governador Gladson Camelí também reforçou o compromisso do Estado com as comunidades tradicionais. “Respeitar os povos indígenas é respeitar a história do nosso estado. Nosso governo tem trabalhado para garantir que esses povos tenham voz, território e dignidade. Eles são parte essencial da nossa identidade acreana”, declarou.
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